Era
um negrinho assinzinho, humilde
e raquítico, escravo de um
estancieiro rico e muito avaro.
Este e seu filho eram perversos
e maltratavam o menino desde o
levantar até noite dentro, às
vezes, sem dar-lhe trégua.
Certa vez fora encarregado de pastorear
trinta fogosos tordilhos durante trinta
dias, sem descanso. Cansado; sem mais poder
dar um passo, recostou-se. Mal adormecera,
ladrões dispersaram a cavalhada e tocaram-na
para outras bandas. E o negrinho perdeu o
pastoreio.
Chegando em casa quase morto de fome e de
fadiga, ao anunciar tal insucesso, fôra
barbaramente espancado e pisado pelo senhor,
que o mandou de volta para campear o rebanho
perdido.Corre aqui, corre acolá, depois de
algumas jornadas encontrou ele os tordilhos.
Entregou-os ao velho estancieiro, pensando
que desta vez seria recompensado. Mas, qual
não foi a sua surpresa: o malvado do filho
do senhor espantou de novo o rebanho só para
vê-lo penar.
Furioso como uma fera, o estancieiro
surrou-o, surrou de relho a mais não poder.
Vendo que o pretinho desfalecera esvaindo-se
numa poça de sangue, mesmo assim não se
conteve carregou -o e enterrou-o num
formigueiro.
Passaram-se três dias e três noites. Na
manhã do quarto dia, o algoz foi ver a cova
em que jazia o pobre negrinho, e qual não
foi o seu espanto? Ali estava o menino de
pé, sereno, a olhar com uma fisionomia sobre
humana, no meio da tropa dos tordilhos
negros. E o cruel senhor quase não
acreditando no que via, meio amedrontado,
meio arrependido, caiu de joelhos pedindo
perdão ao seu humilde escravo.
Dizem, aqueles que habitam os velhos rincões
do Rio Grande do Sul, que o negrinho do
pastoreio anda errante pelos campos, qual
gênio benfazejo, ajudando a todos quantos
perdem a sua rês. Ê só acender-lhe uma vela
e pronto.
Muitos dizem que nas noites escuras de
inverno, no meio do sibilar do vento, ouvem
às vezes, a sua voz pastoreando.
Texto: Folclore – Contos e Lendas
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