"...Chico teve um outro programa de
televisão nos anos 60 - Shell em show maior,
na TV Globo, ao lado de Norma Bengell. Fez o
primeiro mas ficou de tal modo envergonhado
que não apareceu no dia de gravar o segundo.
A emissora, com razão, quis que ele pagasse
uma multa. A coisa ia mal quando Walter
Clark, superintendente da estação, mandou
dizer a Chico que a multa poderia ser
esquecida - bastava ele inscrever uma música
na II Festival Internacional da Canção, o
FIC, que a Globo ia promover em outubro de
1967. O compositor aceitou a proposta - e
foi para saldar essa dívida que nasceu uma
de suas criações mais famosas, Carolina. E
também uma das que ele menos aprecia.
Lembra-se de ter feito a letra num avião, ou
num aeroporto, "nas coxas, mesmo".
A dupla Cynara e Cybele estava procurando
música para entrar no festival, e Rui, do
MPB-4, que era casado com Cynara, veio
perguntar a Chico se ele não tinha alguma
coisa na gaveta. Entregou Carolina com a
ressalva de que não gostava nada dela. Ouviu
a finalíssima do FIC pelo rádio, na Bahia,
em casa de Roni Berbert de Castro - o amigo
que, anos depois, em novembro de 1972,
promoveria seu histórico show com Caetano
Veloso, no Teatro Castro Alves, em Salvador.
Sua música ficou em terceiro lugar, atrás da
campeã Margarida, de Gutemberg Guarabira, e
de Travessia, de Milton Nascimento, "Eu não
estou entendendo nada", disse Chico,
perplexo. Para o mal de seus pecados,
Carolina foi gravada por Aguinaldo Rayol num
LP com as doze preferidas do general Costa e
Silva.
Fonte: Humberto Werneck, Gol de letras, em
Chico Buarque Letra e Música, Cia da Letras,
1989 |