Ghandi

Título original: Gandhi
Lançamento:1982
Direção: Richard Attenborough
Roteiro:John Briley
Produção:Richard Attenborough
Música:Ravi Shankar
Fotografia:Ronnie Taylor e Billy Williams
Figurino:Bhanu Athaiya e John Mollo

 

 

Elenco:

Ben Kingsley .... Mohandas K. Gandhi
Candice Bergen .... Margaret Bourke-White
Edward Fox .... General Dyer
John Gielgud .... Lord Irwin, Viceroy (Edward F.L. Wood)
Trevor Howard .... juiz Broomfield)
John Mills .... Lord Chelmsford, Viceroy (F.J.N. Thesiger)
Martin Sheen .... Vince Walker
Ian Charleson .... reverendo Charlie Andrews

 

"A não-violência não existe se apenas amamos aqueles que nos amam. Só há não-violência quando amamos aqueles que nos odeiam. Sei como é difícil assumir essa grande lei do amor. Mas todas as coisas grandes e boas não são difíceis de realizar? O amor a quem nos odeia é o mais difícil de tudo. Mas, com a graça de Deus, até mesmo essa coisa tão difícil se torna fácil de realizar, se assim queremos.”
Mohandas K. Gandhi 1869-1948

 

 

Desde o século XVIII, por meio da Companhia Inglesa das Índias Orientais, o Império Britânico passou a colonizar gradativamente o território indiano, assumindo já no século XIX, todo o controle político e consequentemente o domínio militar e cultural. A trajetória de lutas pela independência da Índia teve um importante marco com a Revolta dos Cipaios (1857), que foi sufocada pelo Imperialismo britânico. Outro grande marco de lutas pela liberdade indiana foi a propagação da política de não-violência liderada por Mahatma Gandhi.

 

 

É justamente sobre esse tema que Richard Attenborough dirige seu filme biográfico, produzido por ingleses e indianos.
O filme começa com o assassinato do grande líder e sequencialmente com o seu cortejo fúnebre. Em flashback, volta-se ao passado, para o tempo em que o jovem advogado Gandhi encontrava-se na África do Sul. Período esse em que teve contato pela primeira vez com o regime de extrema discriminação racial - o apartheid. Acredita-se que o episódio em que fora expulso de um trem por se recusar a deixar a primeira classe, seja o “despertar de sua consciência social”, sua visão humanista e universalizante.

 

 

O diretor procura enfatizar mais elementos idealistas da política de Gandhi - elementos esses muito admirados pelo Ocidente -, do que o central de suas idéias políticas. A partir de então, começam as inúmeras manobras de desafio às autoridades britânicas em nome dos direitos civis da minoria hindu na África do Sul, contestando o sistema social baseado na desigualdade: se apropria da desobediência como instrumento para tanto. É interessante notarmos nessa questão o direcionamento dos protestos não irem além da crítica à negação ao povo hindu da cidadania naquela colônia inglesa.

 

 

No seu retorno à Índia, em 1915, cena em que tem seu primeiro contato com Jawahar lal Nehru, é ovacionado por inúmeros indianos que o aguardavam. A sua popularidade já é notória tanto entre hindus e muçulmanos, quanto para os ingleses na Índia indicando o impacto das suas campanhas de enfrentamento às políticas de dominação inglesa na África do Sul. Podemos imaginar o seu período de passagem pela colônia sul-africana como de um laboratório. Foi lá que fez uso da desobediência civil pela primeira vez, fez uso da técnica que chamou de “Satyagraha” (força da verdade) - negação à submissão da injustiça contra a obrigatoriedade de registro do povo hindu; mobilizou os trabalhadores para protestar por conquista de direitos dos indianos na África do Sul, entre algumas manifestações que evidenciaram a aplicabilidade da técnica da desobediência como instrumento de confrontação e mobilização das massas indianas.

 

  

 

A partir de 1915, tem contato com as figuras ativistas do processo histórico de independência indiana, o Congresso Nacional Indiano é incentivado a escrever conscientizando a sociedade hindu e muçulmana na luta pela independência. De início o notório advogado indiano ainda não estava ganho para a luta pela independência da Índia. Afirmava não conhecer a sua terra natal. Após atravessar o subcontinente indiano em viagem de trem, presencia o elevado grau de pobreza das castas mais baixas e as desigualdades inerentes à estrutura social da Índia.

 

 

Desde o início do filme, podemos observar o seu caráter conciliador: Gandhi é o elo que unificam hindus e muçulmanos no processo de libertação do domínio imperialista britânico. Não só suas idéias políticas - que alcançaram ampla mobilização de massas, até mesmo a simpatia dos trabalhadores da indústria têxtil britânica - mas sua presença personifica o cerne de suas pretensões. A suas propostas de desafio e efetivas conquistas parciais para o povo indiano desde a África do Sul delineiam uma trajetória que transitou de líder político para celebridade mundialmente reconhecida.

 

  

 

A política da não-agressão alcançou não só o apoio das massas, mas também a burguesia indiana e o reconhecimento internacional. No entanto, sua aplicabilidade foi pensada para a realidade daquela Índia de inícios do século XX.
O carisma de Mahatma Gandhi teve força para mobilizar as massas indianas, sendo a independência o propósito libertador que unia hindus e muçulmanos. Algo incomparável com as tentativas de pressão da Liga Muçulmana por meio de ataques terroristas. Quando dos momentos em que Mahatma Gandhi já está ativamente inserido nas lutas pela independência, este é sempre enquadrado ao lado de Pandit Nehru representando o papel deste como braço-direito do Mahatma.

 

 

Pouco a pouco, levando suas palavras motivadoras e pacifistas aos diversos povos por toda a Índia, Gandhi vai sistematicamente minando o sistema de dominação inglês: a união de hindus, siques e muçulmanos pela independência, a recusa dos camponeses em pagar os impostos, igualdade para as mulheres, a recusa à bebida alcoólica, o boicote ao tecido inglês, a marcha do sal, forçaram o Vice-rei da Índia a ceder a políticas reformadoras paulatinamente, desmoralizando a dominação inglesa. Nesse período Gandhi já sabia que a independência era questão de tempo. Ao final, durante as conversações para o estabelecimento do Estado indiano independente, podemos verificar o início do que representaria mais tarde o maior desapontamento de Mahatma Gandhi: a divisão do país e a fundação do Domínio do Paquistão, em 1947 numa porção leste e outra à noroeste da Índia. Manter a Índia unificada entre hindus, siques e muçulmanos era uma pretensão nacionalista baseada em princípios e ideais humanistas, porém de fato seria insustentável.

 

 

O carismático Gandhi teve força para manter os povos unidos contra a dominação imperialista britânica, mas não o bastante para conter interesses conflitantes de muçulmanos e hindus. Se por um lado estava representado na fundação do Paquistão um duro golpe nos ideais nacionalistas de Gandhi, sua maior vitória está na consolidação da independência indiana, diante de uma Inglaterra desmoralizada pela incapacidade de conter as mobilizações das massas baseadas na prática da não-violência. Outra questão a ser considerada é a divisão social hindu baseada no sistema de castas, uma casa de marimbondos que sabiamente Gandhi não ousou mexer.

 

 

 

Foi indicado para onze Oscar em 1983, dos quais recebeu oito:

 



Melhor Filme
Melhor Diretor
Melhor Ator
Melhor Roteiro Original
Melhor Direção de Arte
Melhor Fotografia
Melhor Figurino
Melhor Edição

 

 

 

Imagens: retiradas da NET
Wav: 31st January 1948
Texto: adaptado de vários comentários sobre o filme
 

 

 

 

 

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