Como você está se
sentindo agora? Nem sempre respondemos corretamente a
esta pergunta... Por exemplo, diante de avaliação
imediata, podemos dizer que estamos bem, mas se pararmos
para nos observar melhor veremos que estamos ansiosos ou
deprimidos. Outras vezes, ocorre justamente o contrário:
respondemos - quase por hábito - que estamos mais ou
menos, quando, na realidade, já nos sentimos bem melhor
do que noutros momentos.
Sem falar de quando os outros comentam que estamos
irritados e só nós não nos damos conta disso... em
geral, nos sentimos incomodados com a observação alheia
e reagimos de forma exagerada, dizendo que "está tudo
bem...". Nossa reação só comprova o que a pessoa havia
dito: não estávamos cientes de nosso estado emocional.
Muitas vezes, quando paro para me sentir, descubro que
estou desatualizada quanto a meus próprios sentimentos.
Explico melhor: se acho que não gosto de alguém, toda
vez que vejo esta pessoa, já tenho um olhar preconcebido
sobre ela. Mas, se eu estiver aberta para admitir que
esta é uma atitude tendenciosa que contamina minha
percepção, posso me surpreender e gostar de encontrá-la
numa próxima vez.
Portanto, apesar de parecer natural sabermos avaliar
nossas sensações e sentimentos, não é bem assim que
ocorre. Para tanto, é preciso, em primeiro lugar, saber
sentir nosso próprio corpo. Isso é um função da
sensação: uma habilidade da mente de nos conectarmos com
a realidade, pois por meio dela percebemos o que está
ocorrendo neste exato momento, tanto em nosso
corpo-mente como no meio ambiente.
Percebemos de modo superficial o que ocorre em nosso
interior porque estamos viciados em prestar atenção
naquilo que ocorre fora de nós. Cabe ressaltar que a
função da auto-observação é gerar maior conhecimento e
auto-responsabilidade diante de nossa reação frente às
pressões do mundo externo. Portanto, esta não é uma
atitude egocentrada e nem está baseada na prática de
autocrítica!
Em geral, associamos a liberdade de sentir com a nossa
possibilidade de expressão. Quando alguém me incentiva a
expressar minha raiva, solto-a com muito mais
facilidade.
O fato de não estarmos familiarizados com nosso mundo
interior e de mantermos nosso foco no mundo exterior,
faz com que tenhamos pouca liberdade em permitir sentir
ou não nossos sentimentos. Em outras palavras, quando o
mundo externo não permite que nos expressemos, acabamos
por nos bloquear internamente também. Como diz a
expressão, engolir sapos.
O ponto é que negar o que sentimos não faz com que os
sentimentos passem, porque a carga emocional ainda
precisa ser liberada por nosso cérebro.
Quanto mais não nos permitimos sentir nossas emoções,
mais vulneráveis estamos para as doenças
psicossomáticas.
Portanto, se não pudermos nos expressar externamente,
devemos criar um ambiente interno para nos acolher.
Permitir-se sentir e permitir-se ser.
Quando nos apropriamos de nossas sensações, pensamentos
e sentimentos, sejam eles agradáveis ou não, podemos
direcioná-los.
A permissão para sentir é a base para o caminho da
responsabilidade pessoal. Quando me permito sentir
irritação, por exemplo, posso resolvê-la como um assunto
privado. Desta maneira, deixo de precisar do outro para
liberar meu mal-estar. Ao me descolar do outro, ganho
liberdade para resolver meu mal estar sem depender de
ninguém.
Isto não quer dizer que basta resolver o assunto
internamente ou que não é preciso comunicarmo-nos com os
outros. Não... pois sabemos vivemos melhor quando
compartilhamos emoções com transparência. O que estamos
ressaltando aqui é que quanto mais resolvidos
emocionalmente estivermos conosco mesmos, menos
sobrecarga e expectativa teremos sobre os outros. Por
exemplo, quando acolho meu mal humor, não preciso do
outro para me libertar da minha irritação!
Desta forma, me torno cada vez menos refém da
disponibilidade alheia.
Esta liberdade não é fácil de ser conquistada, pois
estamos muito acostumados a contar com a idéia de que o
outro, se quisesse, poderia nos entender. Quanto mais
íntimos são os vínculos afetivos, maior é a expectativa
de empatia, isto é, de que o outro poderia se colocar em
nosso lugar e naturalmente compreender a nossa
necessidade de expressão. Mas, nem sempre isso ocorre...
Portanto, o conselho aqui é: antes de tirar a limpo com
o outro, faça sua limpeza interna! Como?
Começando por observar o seu corpo. O corpo não mente:
ele se contrai diante da dor. Respire algumas vezes
profundamente soltando o ar pela boca. Depois, deixe a
respiração seguir seu fluxo e concentre-se na imagem ou
no pensamento do assunto que o está incomodando, e
perceba onde o seu corpo se contraiu. À medida em que
você massagear e relaxar este local, vai sentir
gradualmente ceder o desconforto emocional.
Se negarmos nossas sensações, nos distanciaremos de nós
mesmos. Podemos não gostar do que estamos sentindo, mas
a liberdade de sentir é a nossa porta de entrada para
voltarmos para o nosso eixo interior.
Não sentir o corpo é como querer voar sem precisar
voltar para a pista de pouso para se recarregar. Uma
hora nossa gasolina acaba... mas corpo está lá para nos
receber!
Ao cuidar do corpo, estamos zelando por nossa base
interna para podermos assim relaxar na confiança de
pousar com segurança em nosso mundo interior.
Bel Cesar é
terapeuta e dedica-se ao atendimento de
pacientes que enfrentam o processo da morte.
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